sábado, 29 de janeiro de 2011

Num sábado.....

Cristais se quebram. Copos, ventiladores de teto, cd´s do Pet Shop Boys, se estivermos com sorte. Pessoas nunca, a não ser quando esquecem de olhar os dois lados. Mas emocionalmente falando, não. Quem sou eu pra meter o dedo na sua fossa? Ninguém. Você levou um toco e tanto, e pronto. Se machucou, ok. Dói, eu sei. Perdeu sua capacidade de amar, verdade. Ou não. Não existem verdades, apenas pontos de vista, o meu ponto....


Sei bem como funciona, quantas vezes já fui deletado do amor. Muitas. Quis quem não me queria, amei quem enganava, compartilhei unilateralmente, acreditei no sonho cinematográfico um tanto brega tupiniquim, me quebrei, levantei, desisti, contei mentiras, muitas vezes interpretei. Parece propaganda da nextel estrelada pelo Fábio Assunção, mas é só minha versão, talvez parecida ou plagiada de outro...

Você não quebrou a cara, eu não quebrei. Nascemos com a disposição natural para o amor. Falo por você e eu, não pelos bárbaros da história - O ditador lá no Egito, por exemplo. Sim, não conseguimos imaginar viver sem, sentimos saudade, choramos, compramos discos e livros por impulso, atravessamos sábados com calças de abrigo revisando filmes água com açucar - meus favoritos são aquelas que quase dão vontade de chorar, tipo umas que o cara se segura com um suspiro profundo.

Bem, como gosto disso de sofrer com pés na bunda, resolvi amar de novo, a contragosto no início, paladar típico de um desistente. Cafés da manhã românticos, passeios de mão, festas em família, palpites de parentes, distribuição de beijos e mordidas em pezinhos pequenos. Viajamos pelo mundo sem sair de casa. Sabe quando o gostoso da transa se estende ao sono abraçadinhos? Pois é. Além de brega e fisiologicamente errado, porque você se sente incomodado, sua, liga e desliga o ar condicionado e tals,, um prato cheio pra quem quer, mais uma vez, sair com a impressão de que o amor é o diabo com a garganta cortada ou um cão abandonado com cara de pidão.

Eu não estava quebrado, foi só uma interpretação, uma versão daquele ato final. Um sonho curto, ruim e mesquinho dentro do meu sonho maior, longo e aberto - apelidado de vida real, existência, a lucidez com suas esquinas e possibilidades. Eu não me quebrei, só atribui importância demais à oscilação momentânea da minha autoestima, valor demais a mim mesmo, pior, ao objeto dessa dependência psicologicamente física. Uma versão demasiado dramática do meu abandono. Fiz da minha vida uma ópera, um livro, uma grande produção.

Você continua apto e aberto ao amor. A sede não seca. Se as coisas não aconteceram é porque não aconteceram. Pretensão sua achar que se fechou, que pode decidir, dirigir sua vida. Demita sua analista, psicóloga ou psiquiatra, e olhe pros dois lados. Você só está perpetuando sua primeira experiência sobre o fim, cristalizando a primeira lágrima que caiu, como se tudo aquilo que acabou fosse realmente grande, infinito, definitivo.

O amor te feriu como fere uma flecha sem velocidade e impulsão. Ela cai no chão, você junta e enterra no próprio peito. É pena que quer despertar no outro, no próximo, no amado que se foi? Ninguém tem pena de você. Basta nascer para começar a sofrer, tudo é impermanente, não se iluda. O amor é gasoso, invisível, lendário, metafórico, um sonho. E como todo sonho é insólito, não pode ser cadeado em algum outro lugar que não o coração.

Seu coração não quebrou, pelo contrário, é única coisa que ficou intacta. Ele está lá, esperando por outrem. Como o meu, que pulsa melhor que antes. Um dia vou despertar e voltar a me abraçar com a solidão, estou sabendo. Por hora, não. Amanhã. Hoje, sigo sorrindo, chantageado pela minha versão atual. Toda manhã meu sonho acorda dentro de outro sonho. Com um cheiro de café fresco e preguiça de um sábado nublado.....























Transcrito e adaptado CME