TRILHA SONORA: AO SOM DE ANNA NALICK....
Acho que te devo um pedido de desculpas.Um não, mil!!! É que nem eu mesmo gostava muito de mim, e ficava meio assustado quando alguém me dizia algo bom aos ouvidos. Você parecia minha amiga, só minha amiga. Você falava como uma amiga. Me cumprimentava como amiga. Me telefonava e me convidava para cinemas como uma amiga. Seu riso era de amiga. O seu abraço era de amiga. Mas eu devia ter desconfiado, seus cabelos sempre tiveram cheiro de namorada. Existe algo errado numa amizade quando o resto do mundo parece chato e nós os únicos legais, os únicos a ver coisas engraçadas nas pessoas ao redor, ou sair pra ver gente feia e se divertir com isso.
Mas, conhecer você e acabar sendo seu parceiro de pipoca e coca-cola é bom. Bom como ler uma letra bonita sem poder escutar a incrível música por trás dela. Como planejar um final de semana pra sair e ficar sem um puto furado no bolso, ficar em casa e mesmo assim se divertir e rir até a barriga doer. Descobrir uma ruazinha bonita no seu bairro e ser assaltado e depois achar o ladrão tomando cerveja. Você é como a chuva no meu churrasco. Você é o show do Toiço e do Frango que não consigo ver porque eu acho muito gay. Você é a deliciosa torta de chocolate e limão que para comer eu preciso estar presente no aniversário de 90 anos de alguma conhecida da minha mãe. Sou alguma panicat tentando converter um gay em "A Razão do Meu Afeto". Você é minha pipa enrolada nos fios de alta-tensão. Você é meu peixe novo que morreu na primeira semana. Você é o irmão gêmeo malvado que eu descobri a existência. Você é o game "Fifa 2016" que nem foi lançado e custa quase dois mil legais no Paraguay. Você é como uma baleia em extinção querendo viver na minha piscina de mil litros. É como se eu finalmente aprendesse a voar e você fosse a Kriptonita. Eu sou o país independente que você não deixa em paz. Você é o braço que eu perdi tentando andar de bicicleta novamente. Você é o Barcelona vs Real Madrid que não passa na minha tevê. Sou o Midas louco pra te beijar a boca sabendo que tudo que ponho a mão vira ouro. É como abrir minha lata de refrigerante e descobrir um camondongo morto boiando dentro. É como criar coragem pra subir no palco cantar "Love me Tender" e lá de cima enxergar você no guichê, pagando pra ir embora.
Sei que andei falando coisas sem pensar. Me esforcei pra deixar quieto, ficar de boca calada, não fazer merda. Quase deu certo. Você sabe, sou meio bicudo, enjoado. Olha, sei que andei falhando todas essas vezes, nos últimos meses. Em minha defesa, não era bem eu. Só estava tentando ser uma outra coisa, sei lá, algo que pudesse merecer você. Como eu poderia adivinhar que alguém como você gostaria de mim, assim desse jeito atrapalhado e muitas vezes chato pra caraio que eu sou? Vamos ser sinceros, pra conquistar você tinha de ser de rali de regularidade, bater o tempo todos os dias, cuidar da checagem, do tempo. Contando só a arrancada eu não teria a menor chance.
Um dia, eu sei, você vai entender os meus motivos. E talvez eu os entenda também. Você estava meio etílica pelas amarguras da vida, mas sei que foi honesta, pelo menos na hora em que disse aqueles troços. Não sei o nome disso que estamos sentindo um pelo outro e também não me importa. Pode ser o ápice ou o precipício, e tudo bem. E também não sei se teremos habilidade para cultivar isso por três semanas ou por três décadas inteiras. Só sei que agora estou interessado em saber como será o próximo passo.
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