terça-feira, 14 de outubro de 2014

DONA DOS MEUS OLHOS...

LUZ DOS OLHOS



Um fato marcantemente engraçado, enfadonho até, que fez parte das minhas tardes de inverno, naquela sacada que dava de frente para a rua tranquila, cheia de árvores amareladas pelo vento frio, e sol morno de inverno daquela cidadezinha do sul, aonde me retirei por alguns meses afim de esquecer uma desventura tentando não lembrar o que me levou até ali, mas observando aquela garota todo fim de tarde, sentada no banco em frente ao condomínio de prédios cinzas, esperando pacientemente alguém que raramente aparecia, me fez recordar muitas coisas que eu tentava adormecer dentro de mim. Sempre a via ali, o mesmo jeans, o mesmo cachecol enrolado no pescoço, que deixava seus cabelos loiros em destaque e aquele rosto quase juvenil, os olhos extremamente verdes como a esperança de aguardar a chegada daquele cara com o carrão, até que um dia, ví somente ela indo embora e deixando um bilhete, não pude deixar de observar e depois de semanas vendo aquela cena todas as tardes de inverno, não me contive, e desci do meu lugar na sacada e fui ver o envelope cheiroso com seu perfume, não estava fechado, e li:

"Para me agradar não é preciso um anel de diamantes, jantares caros, sapatos de grife, carro do ano, cobertura com vista para o mar ou viagens para o exterior uma vez por mês. Para me agradar não é necessário abrir a porta do carro, beijar a minha mão ou me enviar 200 rosas colombianas. Para me agradar não é necessário fazer declarações de amor em redes sociais, me chamar de Deusa Grega, escrever poema romântico ou cantar uma música embaixo da minha janela. Para me agradar só é necessária uma coisa: me perceber."

E percebi naquele instante que estava curado da minha dor, e de tudo mais que até então fazia todo sentido, e tudo tornou-se uma nova página, tão verde quanto os olhos daquela garota e tão sublime quanto o cheiro do perfume da carta que ficou em minhas mãos...

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